“El joven secundario
y el universitario,
con el joven proletario,
quieren revolución.” (Victor Jara- Movil Oil Special)
Nesta terça-feira, após uma rodada de negociações com a reitoria, os estudantes da UFF desocuparam a o prédio da reitoria, que havia sido ocupado na última quarta-feira, com o compromisso por parte do Reitor Roberto Salles de cumprir cerca de 90% das pautas apresentadas pelos estudantes da Universidade.
Os estudantes já haviam ocupado a reitoria no dia 24, sendo expulsos no dia seguinte, quando a reitoria entrou com uma ação de reintegração de posse e a polícia federal, juntamente com a tropa de choque da PM, forçou a saída dos estudantes das dependências da reitoria, os mesmos decidiram sair pacificamente e continuar a mobilização para ocupar o Conselho Universitário que seria realizado no dia 31 de agosto.
No dia 29 de agosto foi realizada uma nova assembléia onde cerca de 300 estudantes saíram em ato pelas ruas de Niterói para arrancar as estacas das obras de construção das Vias Orla e 100, duas vias que passariam por dentro do Campus Gragoatá da UFF, há cerca de oito metros das salas de aula, além de desalojar cem famílias que vivem na Comunidade da Rua Projetada, comunidade vizinha à universidade e que está no local há 40 anos.
Na noite do dia 30 de agosto, os alunos realizaram uma vigília na Faculdade de Arquitetura da Universidade, com o intuito de acumular forças para o Conselho Universitário que se realizaria no dia seguinte, pela manhã.
No dia 31 o reitor não compareceu ao CUV e mandou seu vice-reitor Sidney Luiz de Matos Mello.
O Conselho foi lotado por uma multidão de estudantes de todos os campi de Niterói, além de contar com alunos vindos dos campi do interior, como de Volta Redonda, Campos, Rio das Ostras, os quais tentaram colocar em pauta a discussão sobre essas duas vias que não foram aprovadas no CUV, órgão máximo de deliberação da Universidade, que conta com representação estudantil. O Vice-reitor, numa manobra corriqueira, onde demonstra como a Reitoria dialoga com os estudantes, vendo que perderia qualquer votação, decidiu por sua conta implodir o Conselho, gerando assim uma marcha de cerca de 500 estudantes até seu local de vivência por quase uma semana: a Reitoria.
Os estudantes imediatamente ocuparam todos os andares do prédio, o Vice-reitor imediatamente compareceu ao local e tentou negociar uma retirada imediata dos estudantes, os estudantes decidiram que só sairiam depois de conseguir um diálogo com o Reitor Roberto Salles e colocar suas pautas na mesa para negociação, tendo como princípio para qualquer negociação a paralisação imediata das obras das duas Vias em questão, além do fim imediato de cobrança de mensalidades nos cursos de pós-graduação lato sensu, respeitando-se assim a decisão de um plebiscito realizado no ano passado que teve mais votos que a eleição para reitor e que teve como resultado final o resultado de 87% da comunidade acadêmica votando pelo fim dos cursos pagos na UFF, resgatando o caráter público da Universidade.
Ontem depois de novo mandato de reintegração de posse, cerca de mil estudantes se somaram à ocupação, forçando o Reitor a adiar a reintegração de posse para o dia de hoje e convocar uma reunião de negociação para a manhã de hoje, que teve como resultado a carta de compromisso abaixo descrita e assinada pelo próprio reitor e por todos os Pró-reitores presentes na reunião, além dos estudantes que formaram a comissão de negociação.
É importante considerar que essa vitória é parcial, sendo ela fruto da mobilização dos estudantes organizados, e que somente o acompanhamento fará com que estas pautas saiam do papel e se tornem realidade.
Também é importante ressaltar o apoio em tempo integral do SINTUFF, sindicato dos trabalhadores em educação da UFF, que se encontra em greve e esteve a todo o momento prestando solidariedade e apoio logístico aos ocupantes.
É bem verdade que todo esse processo serviu para mostrar que o Movimento Estudantil não está morto e que somente a organização dos estudantes e trabalhadores, juntos, pode mudar a correlação de forças no campo da luta política neste cenário nefasto de exploração dos trabalhadores e espoliação de direitos mínimos dos estudantes.
Este processo ocorrido na UFF não pode ser descolado dos processos que ocorreram na UFSC, UEM, UFPR, UFES e agora na UFSM e UFAL, assim como da greve dos profissionais em educação no estado do Rio de Janeiro, tendo à frente o SEPE. Esta série de ocupações e greves de professores da rede básica e técnicos- administrativos demonstra por outro prisma, o grau de descaso com a educação pública no Brasil, demonstra que a educação pública no Brasil está condicionada cada vez mais aos interesses de mercado, servindo a universidade como mero espaço formador de mão de obra para o mercado de trabalho e a educação básica como correia de transmissão de valores culturais do capitalismo.
A UJC esteve presente em todo o processo de ocupação e na comissão de negociação com a reitoria. Entendemos que por trás dessas lutas dos estudantes de todo o Brasil, está em jogo a disputa por outro modelo de universidade que se contraponha a esse modelo mercadológico de universidade que temos hoje, que somente atende aos interesses do grande capital e a especulação imobiliária, no caso da UFF.
Neste sentido, discutir um projeto de Universidade e Educação Populares torna-se central na luta pela contra-hegemonia da educação brasileira, colocando a universidade a serviço das classes populares. Discutir esse projeto de Universidade nos leva também a discutir outro modelo de sociedade, onde não haja mais explorados e exploradores, onde a aurora do socialismo brilhe tão forte que ofusque os resquícios de uma época sombria, onde os homens são explorados pelos seus semelhantes e os interesses individuais se sobrepõem aos interesses de classe da maioria da população brasileira.
Lutemos por uma Universidade Popular!
Lutemos pelo Socialismo!
Fonte: UJC.ORG