Existem varias maneiras de encarar a historia desse estilo musical, levantando suas principais bandas, principais festivais, a evolução dos instrumentos e efeitos sonoros dentro do rock, concepções estéticas que sofreram mudanças ao longo dos anos... Em fim, uma infinidade de tópicos e sub tópicos que poderiam ser explorados e desenvolvidos nesse trabalho, mas existem outras coisas importantes nesse tema que precisam ser encarados. Talvez, mais importante do que a analise do gênero musical é o entendimento da maneira que o Rock influenciou e influencia as pessoas em suas socializações, e o quanto o olhar juvenil, que o rock possui , dá vida a grupos que se agregam por afinidades. Quantos estilos musicais causaram tanta polemica na historia quanto o rock? O rock não poderia ser tão diferente na sua fase embrionária, na medida que surgira de um estilo condenado pela sociedade e visto com subversivo e sujo, o blues.O rock, no seu processo de desenvolvimento adquiriu vários subgêneros e nessas variáveis, conseqüentemente, adeptos de estilos distintos. Cada grupo com suas características especiais, com suas formas de se expressar.
Tentando compreender o universo que cerca os adeptos do Rock entrevistamos alguns jovens, universitários entre 24 a 34 anos, que gostam desse estilo musical, que moram ou estudam na cidade de Campos dos Goytacazes. Uma questão que queríamos responder é “por que o rock é mais do que um estilo musical, é um estilo de ser, de se comportar, de se vestir...? será que a musica é a prolongação de nosso comportamento ou ela que influencia o mesmo? Tentamos descobrir.
Os jovens dessa faixa etária e desse nível de escolaridade compartilham de algumas opiniões e experiências bem interessantes. Apontam o auge da paixão pelo rock como algo adolescente, onde o próprio tempo é diferente na medida em que só se estuda e o resto do dia é dedicado ao grupo de amigos, e nesse momento existe a troca de idéias sobre diversas coisas, uma delas é a musica. Já na fase adulta o rock deixa de ser o estilo predominante e passa a ser mais um estilo entre outros. È claro que as influencias da adolescência não se dissolvem, e isso todos deixam claro. Entretanto há uma abertura para novas vertentes de estilos diferentes.
O interesse pelo rock se justifica pela sua áurea diferente, suas letras que remetem uma proposta de ação, atitude, rebeldia, revolta. È como se as letras expressassem parte das inquietações sociais e pessoais que habitam a mentalidade dos jovens. Naturalmente, esse perfil de jovens entrevistados é uma parcela mínima da sociedade, considerando que são todos alunos de universidades publicas e que cursam ciências humanas, e podemos logo imaginar que esse interesse por musicas de conotação social se justifique (talvez) por serem alunos de cursos desta área social. Seria amplo entrevistar jovens de outros cursos ou até pessoas de outra faixa etária, essa é uma pretensão futura.Voltando as considerações anteriores, o interesse pelo o que diz a letra das musicas é algo comum entre esse grupo, o ritmo em si é pouco citado, o conteúdo ideológico e critico das letras é ressaltado ao longo das entrevistas.
Perguntamos se há preconceito com o estereótipo rockero e as respostas foram unânimes. O preconceito existe na medida em que o jovem deixa “aparecer” o seu gosto musical pela forma de se vestir, por exemplo. “sempre sofri preconceito! Pelo jeito que agente se veste ou pelo jeito de se expressar, as pessoas falam que é do capeta... se foge do padrão de religião você fica segregado” disse um de nossos entrevistados, aluno da UFF, quando perguntado sobre preconceito ao seu estilo. Outra característica comum entre os adeptos do rock como estilo, é o cabelo grande, mais especificamente na adolescência. È exatamente nessa fase que surgem os primeiros olhares julgadores e as primeiras manifestações de preconceito, que em muitos casos, ocorrem dentro de casa.
Muitos desses jovens fazem, ou já fizeram, parte de “tribos” de galeras que compartilham o mesmo gosto musical. O rock se torna uma espécie de pano de fundo (ou trilha sonora) para outras discussões. Questões existenciais e familiares, e até questões políticas, são com alguma freqüência, o que se fala nos encontros dessas “tribos” e o violão é certamente um componente comum entre eles. Passam de ouvintes de rock à reprodutores do rock, criando uma ligação com
o instrumento musical muito grande, aumentando ainda mais o interesse pelas musicas deste estilo, e criando eventualmente o que chamamos de “roda de violão” na qual se canta musicas de bandas admiradas de varias épocas.
Fora dessas tribos o mundo é diferente. As pessoas, em campos, parecem não aceitar bem formas diferentes de se expressar quando o assunto é estilo de se vestir. Uma das estudantes entrevistadas conta sobre um episodio que ocorrera em sua adolescência em que um grupo de pessoas gritaram “pega a estranha!” e foram atrás dela por vários metros, a intimidando, o motivo: ela estava vestida caracteristicamente como gótica, que seria uma vertente do rock. Essa forma de exclusão é sentida por essas pessoas ao longo da adolescência e é minimizada algumas
vezes na vida adulta, na medida que os rockeros vão adotando novas formas de se vestir, formas essas que não evidenciam o seu estilo musical ou até o grupo que pertencem. Essa alteração na maneira de se vestir e de se comportar está geralmente ligada as responsabilidades que exigem a vida adulta, a medida que para arranjar um emprego, normalmente, precisam adequar sua forma de vestir e comportar as exigências do mercado que é competitivo e seletivo e não permite transgressões agressivas ao seu regimento. Referente a maneira de se comportar, é natural que a própria transição da fase adolescente para a vida adulta gere uma alteração de postura e até de visão em relação ao macro do relacionamento em conjunto, isso com o tempo vai moldando a maneira que o individuo se comporta enquanto adulto com obrigações e direitos a exigir. Logo, aquela rebeldia juvenil (que algumas vezes são encaradas como inconseqüência) se transforma em uma adequação de comportamento de acordo com seu meio coletivo, agora, da vida adulta.
Dois entrevistados me chamaram a atenção quando perguntados, que estilo de rock eles mais gostam, e as bandas que mais escutavam. Eles citaram nomes como: Nação zumbi, Tom Zé, El Efecto e Siba. Bandas nacionais que possuem uma sonoridade extremamente mista, que utilizam instrumentos alternativos, de outros estilos musicais como o samba, o chorinho e o maracatu. Ou seja, a idéia de rockero conservador caiu ao chão. O rock é mais do que guitarras distorcidas. O rock é a atitude que se espera de uma musica, e essa opinião fica evidente no discurso dos jovens entrevistados. A banda El Efecto, por exemplo, é uma banda indiscutivelmente heterogenia no quesito sonoridade. Não seria absurdo questionar o gênero da banda, mas segundo um dos jovens fãs: “o que importa é a mensagem que a musica passa, e pra mim essa mensagem é rock n roll”. Naturalmente que essa mensagem que ele se refere é no aspecto social, que é posta, hora implicitamente e de maneira sutil, hora de forma clara e “gritante”. “Nós precisamos de comida, água e luz, eles conservam a fome a seca e a escuridão, nos precisamos lutar contra as diferenças sociais, eles precisam lucrar cada vez mais... Nós precisamos de informação para inverter, Eles precisam da ignorância para se manter, nós precisamos da informação para inverter, eles precisam entreter para ignoranciar, nós se movemos parados, nos se falamos calados, nós sustentamos um desenvolvimento insustentável (...)” trecho da musica: Necessidades Básicas da banda El Efecto.
Bandas clássicas também foram citadas como: Guns N Roses, Nirvana e Pink Floyd. Outra vertente citada foi o Metal. O Metal seria outro estilo musical apêndice ao rock. Ainda há quem diga que o Metal é mais um desdobramento do Hard Rock, ou seja, mais uma vertente como outra qualquer. Mas entre adeptos do Metal, é natural teses separativas de um estilo em relação ao outro. Um dos alunos da UFF, citou bandas de Death Metal como, por exemplo, Sufferage e Fleshgod Apocalypse como as mais importantes dentro do gênero, se contrapondo totalmente a opinião de um outro colega que fez referencia a Raul seixas como uma grande influencia. Quer dizer, dentro de um mesmo gênero musical, ou de gêneros irmãos, existe sonoridades totalmente opostas, com concepções de arranjo tão divergentes. A idéia de crítica é comum a quase todas as vertentes do Rock. Critica a religião, critica comportamental, familiar, social, ideológica... Essa é a grande ligação entre as mais variadas vertentes desse estilo musical, por mais antagônicas que pareçam elas seguem um ritual, uma tradição critica que conquista tantos admiradores.
Influencia familiar não parece ser predominantemente importante ou influenciável no gosto musical dos jovens, muitos se lembram de ter ouvido os pais escutando qualquer coisa de rock em algum período da vida outros os consideram remanescentes do movimento Rip, mas como já comentamos anteriormente, é na rua que nasce o interesse por esse tipo de som. Alguns desses entrevistados se referem ao gosto musical dos pais de forma pejorativa, abominando as influencias familiares e adotando as influencias das rodas de amigos do período da adolescência.
Mas afinal: o que há de comum entre os rockeros? “nada em comum. A idéia de contestação é viva, mas hoje em dia isso não prevalece. Hoje em dia o Rep carrega a chama da contestação mais intensa que o rock...” essa é a opinião de um estudante da UENF que teve em sua adolescência todo o estereótipo de rockero, sofrera preconceito pelo seu modo de vestir e pela turma que andava, mas hoje vê o rock de maneira diferente, na medida em que esse estilo ao se popularizar perdeu muitas características que eram admiradas no passado, isso porque ao se tornar um estilo comercial, teve que se adequar cada vez mais as exigências de um mercado que nem sempre (ou quase nunca, dependendo do ponto de vista) presa pela qualidade das letras, dando margem a bandas que valorizam mais o “barulho”,e menos o que diz. “Vontade de rebeldia! Mas é claro que é mais fácil ser rebelde quando se tem um pai petroleiro. Ser rebelde como nós fomos, é uma outra coisa.” Disse um outro jovem univresitário (da UFF campos) se referindo a afinidade entre os rockeros, e nesse caso destacando uma relação de classes.
È claro que Rock n’ Roll não é só critica social e ideológica, mas ainda sim é uma das características mais importantes, pelo menos aos olhos desse grupo de universitários da cidade de Campos.
artigo escrito por : Bruna Machel
09 de junho de 2010